O QUE SIGNIFICA SER UM HOMEM DE DEUS?
Pr Luciano R. Peterlevitz – Dia do Homem Batista – Culto realizado pela União
Masculina Missionária da ABCLESP, na Primeira Igreja Batista de Americana, em
07/06/2025.
TEXTO: 1Reis 17
Introdução
O nome “Elias” significa “meu Deus é Javé”. Elias encarnava uma verdade
fundamental: O Deus a quem eu adoro é Javé! O nome do profeta confrontava os
israelitas que estavam adorando o falso deus Baal e os conclamava a reconhecer o Deus
de Israel como único e verdadeiro.
Elias era “tesbita”, ou seja, originário de Tisbé, que ficava em Gileade, ao leste do rio
Jordão.
O contexto da atuação de Elias é apresentado em 1Rs 16.29-33. O culto ao falso deus
Baal foi oficializado em Israel, por Acabe, que foi influenciado por sua esposa pagã
Jezabel. Esta era filha de Etbaal, cujo centro do governo era Sidom (“rei dos sidônios”,
1Rs 16.31), uma cidade costeira na Fenícia, no atual Líbano. Na mentalidade dos
antigos cananeus, Baal era o deus da chuva, do trovão e da fertilidade. Ao declarar que
não choveria mais sobre a terra (1Rs 17.1), Elias estava provando que somente Javé (e
não Baal) pode enviar a chuva. Só o Senhor Deus!
1Reis 17 registra três grandes feitos de Deus naquele tempo de seca: pão e carne sendo
trazidos pelos corvos (v.2-7), a multiplicação da farinha e do azeite (v.8-16) e a
ressurreição do filho da viúva (v.17-24). Deus faz milagres nos tempos de crise.
Tempos de seca são oportunidades para comtemplarmos o agir poderoso do Senhor.
Após o terceiro milagre, a viúva, ao contemplar a ressurreição do seu filho, declara:
“Agora eu sei que você é um homem de Deus e que a palavra do Senhor na sua boca é
verdade.” (v.24).
Elias foi reconhecido como um homem de Deus. Por que? O que levou aquela viúva a
fazer essa declaração acerca de Elias? O que significa ser um homem de Deus? É sobre
isso que vamos refletir nessa mensagem.
Um homem de Deus é alguém que serve a Deus: v.1
V.1: “a quem eu sirvo” (NAA) ou “perante cuja face estou”. Esta expressão revela duas
marcas fundamentais da devoção e da espiritualidade: vivência constante na presença de
Deus e disposição para o serviço.
Vivência constante na presença de Deus: “perante cuja face estou”.
Disposição para o serviço: o verbo hebraico traduzido como “servir” (NAA: “a quem
eu sirvo”) é ‘amad, que literalmente tem o sentido de “ficar de pé”. Elias vivia na
presença de Deus e estava sempre disposto a servir.
Nos dias hoje lamentavelmente poucos se dispõem a servir no Reino. A maioria dos
crentes quer ser servida. Estamos diante de um mercado da fé. Cristãos se
transformaram em clientes exigentes: reivindicam sempre o melhor da sua igreja, mas
não dispõem a dar o melhor.
Mas um homem de Deus é um servo, sempre disposto a servir.
Um homem de Deus é alguém que vive segundo a Palavra de Deus: v.2, 5
Os v.2-4 apresentam a ordem de Deus a Elias. Nos v.5-6, lemos a obediência do profeta
e a provisão divina através dos corvos e do ribeiro de Querite (um uádi a leste do
Jordão, perto de Jerico).
A narrativa de 1Rs 17 destaca a Palavra do Senhor:
V.2: “veio a ele a palavra do Senhor”.
V.5: “Elias fez segundo a palavra do Senhor”.
V.8: “Então veio a ele a palavra do Senhor”.
V.14a: “Porque assim diz o Senhor”.
V.15: “A viúva foi e fez segundo a palavra de Elias”.
V.16: “segundo a Palavra do Senhor por intermédio de Elias”.
V.24: “a Palavra do Senhor na tua boca é verdade”.
Elias vivia sob a palavra de Deus (Rs 17.5, 10). A viúva também (v.15).
Uma marca fundamental de um homem de Deus é a sua obediência à Palavra de Deus.
Elias fez não segundo o que achava melhor, ou segundo o seu próprio coração, ou o que
todo mundo estava fazendo. “Elias fez segundo a palavra do Senhor” (v.5).
“Siga o seu coração”: é a mensagem apregoada em nossa sociedade. “Siga a Palavra de
Deus”: deve ser a mensagem da Igreja.
Um homem de Deus vive o evangelho no seu dia a dia, na família, no trabalho ou onde
quer que esteja.
Um homem de Deus é alguém que depende completamente de Deus: v.2-7
Os v.2-7 apresenta Deus como Provedor.
“Elias recebeu ordens do Senhor para se isolar no deserto durante o período da seca, e
Deus milagrosamente proveu seu alimento através dos meios mais improváveis. Como
está frequentemente provado na Bíblia, o Senhor não está preso, como o homem, à
forma habitual de fazer as coisas.” (Comentário Beacon).
Deus disse exatamente para onde Elias deveria ir e o que deveria fazer (v.3-4; v.9).
A fé autêntica é comprovada pela obediência. Ao obedecer à Palavra do Senhor, Elias
demonstrava sua total dependência de Deus.
Pv 3.5: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie no seu próprio
entendimento.”
A torrente secou (v.7). Será que Elias pecou? Desobedeceu a Deus? Não! Como diz
Wiersbe, o Senhor somente queria Elias em outro lugar, e, além disso, era um lembrete
de que Elias deveria confiar no Senhor, e não na torrente.
Um homem de Deus é alguém que não hesita em pedir ajuda: v.9-16
Mais uma vez podemos observar que a pronta disposição de Elias demonstrava sua total
dependência do Senhor. Veja v.8, 9 e 10.
Sarepta, (v. 9,10), a aproximadamente 10 quilômetros ao sul de Sidom, estava
localizada exatamente no território do pai de Jezabel.
V.14: “A farinha da panela não acabará, e o azeite do jarro não faltará, até o dia em que
o Senhor fizer chover sobre a terra.”. Essa promessa se cumpriu, conforme lemos no
v.16.
Sidom era terra de Baal, mas este deus não tinha nenhuma provisão para aquele
momento. Por outro lado, os recursos do Senhor são inesgotáveis, mesmo nos períodos
de escassez. De fato, como diz o nome “Elias”, o “Senhor é Deus”.
Além disso, há algo muito importante aqui. Elias não hesitou em pedir ajuda para uma
viúva (v.10). Primeiro pediu água (v.10), depois, um bocado de pão (v.11). O profeta
poderia pensar: “eu, que tenho o nome “Elias” (“o meu Deus é o Senhor”), eu, que já
orei e os céus se fecharam, eu, que sou profeta do Senhor, agora vou pedir ajuda para
uma pobre viúva? Vou pedir ajuda para alguém que está prestes a morrer?”.
Entretanto, sem questionar, Elias foi pedir ajuda para aquela pobre viúva.
Estatisticamente, mais homens morrem afogados do que mulheres. A razão é simples:
quando começam a se afogar, as mulheres rapidamente gritam por socorro, enquanto os
homens preferem se salvar sozinhos.
Os homens relutam para ir ao médico (principalmente urologista!).
Os homens são mais fechados. “Homem que é homem não chora”, diz o ditado.
Entretando, olhando o exemplo de Elias, aprendemos que um homem de Deus não
hesita em pedir ajuda.
Um homem de Deus é alguém que ora: v.17-23
A narrativa atinge o seu ápice. Surge um problema bem maior: a morte (v.17). Diante
desse inimigo, não podemos fazer nada.
Elias podia fazer nada, a não ser orar. “Quando o homem trabalha, o homem trabalha.
Mas quando o homem baixa a cabeça, dobra o joelho e ora, Deus trabalha” (Billy
Graham).
A oração não é o último recurso, antes, é o único recurso.
Elias era um homem de oração, conforme lemos em Tiago 5.16-19:
¹⁶ Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para
que vocês sejam curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
¹⁷ Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou com
fervor para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
¹⁸ Depois, orou de novo, e então o céu deu chuva, e a terra produziu os seus frutos.
Diante da morte do filho da viúva, Elias “clamou ao Senhor” (v.20).
Salmo 142.1,2: “Ao Senhor ergo a minha voz e clamo; com a minha voz suplico ao
Senhor. Derramo diante dele a minha queixa, à sua presença exponho a minha
angústia”.
1 Timóteo 2.8: “Quero, pois, que os homens orem em todos os lugares, levantando mãos
santas, sem ira e sem animosidade.”.
Quando o assunto é ministério com homens, normalmente brincamos dizendo o
seguinte: para convidar os homens da igreja para algum evento precisamos atraí-los pelo
estômago. Onde tem churrasco, tem homem!
Minha oração é que os homens sejam atraídos a Deus movidos pelo fome da Palavra e
pela sede da presença de Deus!
Vejamos, agora, alguns elementos essenciais da oração de Elias:
Uma pergunta honesta: v.20. “Por que?”. Qual homem de Deus nunca fez essa
pergunta para Deus? Além disto, lemos aqui no v.20 um clamor fruto de um
relacionamento íntimo com Deus: a expressão “Ó Senhor, meu Deus” ocorre duas
vezes, nos v.20 e 21. A pergunta do v.20 é feita por alguém que tem intimidade com
Deus. Alguém que fala com seu Pai celestial não esconderá as inquietações do seu
coração.
Um pedido respeitoso: v.21. O texto hebraico usa uma palavrinha hebraica (na’) que
pode ser traduzida como “por favor” (“por favor, faze que a alma deste menino torne a
entrar nele”). Quando oramos, adentramos com santo temor à sala do trono da graça,
cientes da majestade e da grandeza de Deus, agarrados na promessa de que receberemos
misericórdia e encontraremos graça para ajuda em momento oportuno (Hb 4.16). E
assim, estamos certos de que o Senhor ouvirá a nossa oração.
Um homem de Deus leva outros à fé: v.24
Finalmente, chegamos na declaração do v.24. Aquela viúva, ao contemplar aquele
grande feito de Deus através de Elias (a ressureição do seu filho), teve que reconhecer:
“Agora eu sei que você é um homem de Deus e que a palavra do Senhor na sua boca é
verdade.”
Aquela pobre mulher não somente reconhece que Elias é um homem de Deus, mas
também declara que a palavra do Senhor na boca dele é “verdade” (hebr. ‘emet, firmeza,
fidelidade, verdade). Ao afirmar que a Palavra do Senhor na boca de Elias é “verdade”,
ela estava reconhecendo que o Deus de Israel é o Deus vivo e verdadeiro.
Convém lembrar que aquela mulher morava exatamente na terra de Jezabel. Mas
naquela terra pagã, onde Baal era considerado o “senhor”, Javé reconhecido como
Senhor e Deus único e verdadeiro! E isso através do homem de Deus.
O ápice da narrativa não é milagre em si, mas sim o reconhecimento da viúva fenícia de
que a Palavra de Deus é a verdade.
Como vimos, Elias obedecia a Palavra de Deus. Sua vida era um testemunho vivo do
Deus vivo. E isso levou aquela viúva a reconhecer que a Palavra do Deus de Elias é
verdadeira e fiel. Provavelmente aquela mulher fenícia se converteu a Javé, o Deus de
Israel.
Ficamos preocupados como atrair as novas gerações a Cristo. Mas existe algo que pode
atrair as crianças, os jovens e adolescentes a Cristo: a nossa vida marcada pelo caráter
de Cristo. Palavras persuadem. Exemplos arrastam. Nossas igrejas precisam
urgentemente de referencias de fé. Os homens de Deus precisam ser modelos de fé para
as novas gerações.
Conclusão
Um homem de Deus é alguém que serve a Deus, vive segundo a Palavra de Deus,
depende completamente de Deus, não hesita em pedir ajuda, é alguém que ora e leva
outros à fé.
Não seja só um membro de uma igreja. Não seja só um frequentador de cultos. Seja um
homem de Deus.