UM CLAMOR EM TEMPOS DE ANGÚSTIA: A ORAÇÃO DE ANA

Postado em 8 de março de 2021 por

Categorias: Pregações

TEXTO: 1Samuel 1.9-18

Pr Luciano R. Peterlevitz, mensagem pregada na Primeira Igreja Batista de Sumaré, em 07.03.2021 (domingo, culto da noite).

Introdução

Amanhã, dia 08 de março, é o Dia Internacional das Mulheres. Então, no culto de hoje rendemos homenagens às mulheres. Nessa mensagem, nós vamos meditar na história de Ana, particularmente em sua oração registrada em 1Samuel 1.9-18.

Entretanto, não é tempo para comemorações. Nessas últimas semanas, a crise sanitária piorou consideravelmente por causa do COVID-19. O Estado de São Paulo está na fase Vermelha, entre os dias 06 e 19 de março. O número de mortos cresceu de forma assustadora nestes últimos dias. Noticias avassaladoras não param de chegar.

Diante desta situação, não há motivos para “comemorar” o dia mulher. Não é tempo de celebrar. É tempo de lamentar. É tempo de buscar ao Senhor.

Por isso, nessa noite quero desafiar as mulheres (e também os homens!) a olhar para história de uma mulher que buscou ao Senhor com a alma angustiada. Vamos refletir  sobre a história de Ana, focalizando aquele momento em que ela clamou ao Senhor por um filho. 

A favorecida em crise 

O nome “Ana” significa “favorecida”. Ela é favorecida, contudo, é estéril (1Samuel 1.2). Aquela mulher recebeu a graça de Deus, contudo, não podia ter filhos.

No Antigo Testamento, a esterilidade era considerada um desfavor divino. Ana, a favorecida, na verdade era desfavorecida.

Elcana, marido de Ana, tinha outra esposa, Penina (cujo nome significa “fértil”), que tinha filhos. Penina provocava e irritava Ana (1Samuel 1.3-8).

Diante das afrontas de sua rival, Ana ficava com a alma amargurada.

Não estamos na mesma situação de Ana? Somos favorecidos por Deus. O Senhor derramou sua graça sobre nós. Mas parece que não somos favorecidos de fato. Afinal, temos de enfrentar severas crises.

Vivemos em mundo caído (sujeito às pandemias). Toda a natureza geme (Rm 8.22). Mesmo aqueles que são favorecidos, aqueles sobre os quais Deus derrama sua graça, estão sujeitos a passar por situações de extremas dificuldades.

Ana estava angustiada. No sacrifício anual realizado em Siló, ela “não comia nada” (1Samuel 1.7). O seu semblante estava decaído (v.18).

Há crentes (favorecidos, agraciados por Deus) que estão abatidos. Cabisbaixos. Como é triste ver um cristão com o semblante decaído. Muitos estão como Ana: não querem mais comer. Não têm forças para continuar a vida.

A mudança

Todos os anos Elcana e sua família iam para o santuário de Siló (v.3). Em todos os anos Ana ficava angustiada. “Isso acontecia ano após ano” (v.7).

Talvez você não está chorando “ano após ano”, como Ana. Talvez você chora “dia após dia”. Isso precisa mudar.

Vejamos o que diz o v.9: “Certa vez após terem comido e bebido em Siló, Ana se levantou…”.

Ano após ano era a mesma coisa, o mesmo choro, a mesma perturbação. Mas houve um ano em que tudo começou a mudar. A sorte de Ana iria mudar. Tudo começou a mudar quando aquela mulher tomou uma postura: “ela se levantou”. Ana se levantou para orar (v.10).

Mulheres, levantem-se para orar! Se vocês estão vivendo alguma situação de angústia, é preciso se colocar de pé para clamar. Levantam-se para orar por si mesmas. Levantam-se para orar por seus maridos, por seus filhos, por seus pais, por seus familiares, por sua nação.

Como foi a oração de Ana? O que podemos aprender com sua oração?

Em primeiro lugar, aprendemos que se trata de uma oração amargurada.

Qual o estado da alma de Ana, quando ela orou? O texto bíblico diz: “E Ana, com amargura de alma, orou ao Senhor e chorou muito.” (1Samuel 1:10).

Ana orava silenciosamente. Só seus lábios se moviam (v.12). O sacerdote Eli começou a observá-la, e erroneamente achou que ela estava bêbeda (v.13). Mas aquela mulher atribulada “só falava em seu coração” (v.13).

Ela respondeu o seguinte ao sacerdote: “Não, meu senhor! Eu sou uma mulher angustiada de espírito. Não bebi vinho nem bebida forte. Apenas estava derramando a minha alma diante do Senhor” (1Samuel 1:15).

Observe como ela se descreve: “sou uma mulher angustiada de espírito”.

No verso seguinte, ela ainda diz: “porque é grande a minha ansiedade e a minha aflição” (1Samuel 1:16).

Realmente Ana não estava tranquila. Ela tinha uma clara percepção do estado de sua alma. E sua aflição não a impediu de orar. Pelo contrário! A percepção que ela tinha de sua aflição levou-a a se derramar diante do Senhor.

A percepção que temos de nossa necessidade nos leva a ter uma percepção profunda do cuidado de Deus. Se temos uma percepção profunda da nossa necessidade, então estamos prontos para termos uma percepção profunda acerca da ação poderosa e graciosa de Deus em nossa vida.

Jamais podemos dizer algo do tipo: “só vou orar quando estiver mais tranquilo, quando eu estiver menos agitado, ou menos angustiado”. Não! Quando eu estiver agitado, perturbado, então preciso derramar minha alma perante o Senhor.

A oração não é um ritual a ser cumprido. A oração é um derramar da alma.

Precisamos meditar ainda em outro ponto. Ana é um retrato da igreja de hoje. Somos favorecidos, mas parecemos estéreis. Falta-nos a plenitude do Espírito Santo. A graça de Deus está sobre nós, mas não conseguimos produzir os frutos do Espírito.A paz, o amor, a bondade estão longe de nós. Parece que estamos longe de usufruir da vida abundante, prometida por Cristo (Jo 10).

No deserto das provações, diante das tentações, muitos crentes estão cedendo às tentações, dando voz ao inimigo.

Os favorecidos vivem como desfavorecidos. Estão estéreis. Não conseguem produzir vida. Você está assim?

Então veja a oração de Ana, no cântico de 1Samuel 2: “O Senhor é quem tira a vida e quem a dá” (1 Samuel 2:6). Sim, Deus pode pôr fim à esterilidade.

Somos favorecidos por Deus. Contudo, se estamosem situações de esterilidade física, espiritual ou emocional, o que devemos fazer? Precisamos, mais do que nunca, buscar o Deus da vida!

“A fraqueza da igreja deveria nos levar ao Senhor em oração angustiada, e não nos afastar dele em derrota resignada” (Tim Chester).

Essa situação que estamos vivendo nos impõe medo, porque todos nós estamos de “mãos atadas”, não podemos fazer nada. A pandemia se agiganta contra nós. E vamos nos apequenando, cada vez mais. Mas precisamos reconhecer que há um Deus que é maior do que tudo isso.

Outra lição que aprendemos com a oração de Ana é que ela é uma oração comprometida.

A oração de Ana veio acompanhada de um voto (1Samuel 1.11). Se o Senhor atendesse o seu pedido, e lhe concedesse um filho homem, ela o dedicaria “ao Senhor por todos os dias da sua vida, e sobre a cabeça dele não passará navalha (v.11).

Aquele menino seria um nazireu (Nm 6.5), ou seja, consagrado ao Senhor.

E foi exatamente isso que aconteceu. Quando o menino nasceu, após o desmame, ele foi levado ao santuário de Siló, onde foi entregue ao Senhor (v.28).

Estamos dispostos a entregar ao Senhor aquilo que Ele tem nos concedido? Equivocadamente achamos que as bençãos que o Senhor nos dá são nossas, propriedades nossas, quando na verdade elas continuam pertencendo ao Senhor, para serem usadas para o Reino Dele e para os propósitos Dele.

Por isso, insisto nessa pergunta: estamos dispostos a consagrar ao Senhor aquilo que Ele nos dá? Nossas orações estão comprometidas com o Reino de Deus?

Uma última lição que aprendemos com a oração de Ana é que ela é uma oração postulante.

Quando Eli soube que Ana não estava embriagada, antes, estava orando, ele expressou um desejo: “Vá em paz, e que o Deus de Israel lhe conceda o que você pediu” (1Samuel 1:17).

O Senhor ouviu o pedido de Ana, e concedeu-lhe um filho. Ela “deu o nome de Samuel, pois dizia: “Do Senhor o pedi” (1Samuel 1:20). O nome “Samuel”, na língua hebraica, significa “seu nome é Deus”. Aqui no texto, o nome hebraico shemu‘el (“Samuel”)está relacionado ao verbo sha’al, “pedir”. Samuel é o filho que foi pedido àquele cujo Nome é Deus.

Oramos Àquele cujo Nome é Deus. Aquele que tem o Nome de “Senhor dos Exércitos” (1Samuel 1.3). Aquele que tem o Nome de El Shaday, Deus Todo Poderoso. Oramos a Jesus, que tem o Nome que está acima de todo o nome.

Ana recebeu um filho porque pediu. Muitas vezes não recebemos porque não pedimos. É claro que Deus nem sempre dará o que pedimos. Mas uma coisa é verdade: como filhos de Deus, podemos pedir. Tiago constatou que os crentes “…Não têm, porque não pedem” (Tg 4.2).

Será que há algo que não pedimos em oração porque julgamos que, no fundo, o Senhor não nos dará ou não pode nos dar?

Podemos não receber tudo o que pedimos, mas o uma coisa é certa: a oração revigora a alma. Veja o que aconteceu com Ana, após ela derramar sua alma perante o Senhor: “Então ela seguiu o seu caminho, comeu alguma coisa, e o seu semblante já não era triste.” (1 Samuel 1:18).

Se você está com o semblante caído, busque o Senhor. Não sei se Ele vai dar o que você está pedindo. Mas uma coisa eu sei: ao sair da presença de Deus, o seu semblante já não será o mesmo, e você terá forças para seguir o seu caminho!

Conclusão

Vivemos tempos difíceis. Mas que o Senhor levante nessa igreja mulheres como Ana. Mulheres de oração.

A oração de Ana foi uma oração amargurada que criou em nela uma profunda percepção de sua necessidade de buscar a Deus. Foi uma oração comprometida em consagrar ao Senhor a benção recebida. E foi uma oração postulante, direcionada ao Senhor que tem Nome de Deus. 

Qual a sua necessidade hoje? Qual sua esterilidade? O que tem levado você às lágrimas? Apresente isso diante do Senhor, agora.