DOIS HOMENS E UM DESTINO

Postado em 23 de novembro de 2018 por

Categorias: Pregações

Pr Luciano R. Peterlevitz – IBBV, 22.11.2018

 

TEXTO: Atos 12.1-17

 

Introdução

Atos 12.1-17 narra a perseguição do rei Herodes sobre a igreja primitiva. O início da narrativa alude à morte de Tiago (v.1-2), e na sequencia descreve a prisão de Pedro e libertação milagrosa dele da prisão.

Dois homens, e dois destinos. Os dois homens de Deus (Tiago e Pedro) foram presos. Um deles foi morto (Tiago), o outro foi liberto (Pedro). Deus livrou Pedro da prisão, mas não livrou Tiago. Um destino para Tiago, outro para Pedro.

Entretanto, o tema da nossa mensagem não é Dois homens e dois destinos, mas sim Dois homens e um destino. Na verdade, havia um destino traçado para ambos, ou seja, o propósito de Deus da vida deles era um só: glorificar a Deus, quer pela vida, quer pela morte.

 

Exposição

A morte de Tiago: v.1-2

V.1: O “Herodes” mencionado aqui é Herodes Agripa I, rei da Judeia entre os anos 37 e 44 d.C. O seu avô, Herodes, o Grande, perseguiu o menino Jesus.

Herodes matou “Tiago, irmão de João” (v.2). Tiago e João eram os filhos de Zebedeu. Junto com Pedro, eles formavam aquele círculo íntimo dos discípulos que estavam mais próximos de Jesus.

Tiago bebeu o mesmo “cálice” de Jesus, ou seja, foi morto por causa do Evangelho, conforme a profecia de Jesus (Mc 10.39).

 

A prisão e libertação de Pedro: v.3-17

V.4: O apóstolo era guardado por quatro escoltas de guarda havendo quatro guardas em cada uma. Pedro seria apresentado ao povo, depois da páscoa. Certamente a intenção de Herodes era levá-lo a juízo público, para sentenciá-lo à morte. A lei judaica proibia execuções no período da páscoa.

V.5: “mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele”. Era uma oração contínua e ferverosa. A igreja preocupava-se com o Pedro, um dos líderes deles.

V.6: “Pedro dormia”. Pedro dormia entre dois guardas, e outros dois guardas vigiavam a porta.

Na prisão de Filipos, Paulo orava e cantava louvores a Deus (At 16.25). Crisóstomo comentou: “é lindo o fato de Paulo cantar hinos, enquanto Pedro, aqui, dorme.” Tanto Pedro como Paulo estão tranquilos diante da perseguiição.

V.7-8: O poder miraculo de Deus interviu na prisão e libertou Pedro. Não importa a situação em que estamos; não importa a espessura da algemas que nos prendem; quando Deus intervem, não há algema que resita ao Seu poder.

V.9-11: Pedro não sabia se o que estava acontecendo com ele era real ou se era uma visão. Nem ele acreditava no que estava acontecendo. Será que nós acreditamos que Deus pode agir poderosamente entre nós?

V.12-17: Pedro foi à casa de Maria, mãe de João, cognominado “Marcos”. Marcos é mencionado várias vezes (At 12.25; 13.5-13; 15.37-39; Cl 4.10; 2Tm 4.11; Fm 24; 1Pe 5.13) e, segundo a tradição cristã, foi o autor do Evangelho que leva o seu nome.

Mas, chegando à casa da mãe de Marcos, Pedro demorou para ser atendido. Aqueles que oravam não acreditavam que Pedro poderia estar batendo à porta. Mas eles estavam orando para que? Eles não pediram a libertação de Pedro? É o “seu anjo”, diziam eles (v.15; veja Hb 1.14).

V.17: Tiago: não o apóstolo (v.2), mas o irmão de Jesus (Mt 13.55; Jo 7.3-5; At 1.14), autor da epístola que leva o seu nome no Novo Testamento. Daqui em diante, aparece como um dos principais dirigentes da igreja de Jerusalém (At 15.13,19; Gl 1.19; 2.9). Tiago, o apóstolo, havia morrido. Mas Deus levanta outro Tiago para prosseguir com a obra.

 

Aplicações

  1. Precisamos entender que o povo de Deus é frontalmente perseguido pelos inimigos do evangelho

Conforme diz o v.1, “mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar”. Herodes mandou matar Tiago. Aquele rei integrava o sistema mundano, comandado pelo príncipe das trevas, que tem por objetivo principal oprimir e acabar com o povo de Deus.

Por isso, não podemos nos iludir: achando que todo mundo vai ser converter ao evangelho, ou achando que teremos vida fácil. Jesus chama de bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa do seu nome (Mt 5.11-12).

 

  1. Precisamos entender que a oração é fundamental

Conforme lemos no v.5, a igreja intercedia por Pedro. Este era um dos líderes da igreja primitiva. A igreja preocupava-se com ele. É importante a igreja orar por seu pastor e por seus líderes.

Paulo pedia oração por sua vida (Ef 6.19). Pastores também precisam de oração.

 

  1. Precisamos entender que o fato de sofrermos não significa que Deus tenha falhado

Tiago caiu nas mãos de Herodes. Lição: os crentes estão sujeitos às maldades deste mundo. Quando recebemos algum livramento, dizemos que Deus é bom. Mas, quando não há livramento, significa que Deus não é bom?

Pedro foi liberto. Tiago não. Entrento, Jesus já havia dito que Tiago haveria de morrer pela causa do evangelho (Mc 10.39).

Pedro não era melhor do que Tiago, e Tiago não era pior do que Pedro. O que acontece conosco, tanto o bem como mal, não determina o tamanho do amor de Deus para conosco. Deus cura uns; outros não; Deus livra uns de acidentes, mas muitos filhos dele morrem tragicamente em acidentes. O que sabemos é que a paz que transcende todo nosso entendimento pode transbordar nosso coração, independente da dor que sentimos. Nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

Quanto a Pedro, Jesus já havia dito que ele morreria como mártir (Jo 21,18-19). Jesus disse que a morte de Pedro haveria “de glorificar a Deus” (João 21.19). Quer dizer, ele foi liberto quando Herodes o prendeu. Mas, anos depois, por volta do ano 65 d.C., ele foi crucificado de cabeça para baixo, conforme a tradição cristã. O propósito de Deus se cumpriu sobre a vida dele.

O propósito de Deus se cumpriu sobre Tiago. O propósito de Deus se cumpriu sobre Pedro (quando ele foi liberto, e quando ele foi morto). O propósito de Deus sempre há de se cumprir.

A igreja fazia incessante oração por Pedro (Atos 12.5), e o Senhor enviou o seu anjo àquela prisão para libertá-lo. Entretanto, é notável que não foi a oração em si que libertou Pedro, isso porque os irmãos, apesar de estarem orando fervorosamente, não estavam acreditando que Pedro poderia ser liberto (veja Atos 12.14,15). Na verdade, apesar da incredulidade dos irmãos, Deus manifestou graciosamente o seu poder e livrou o apóstolo das mãos de Herodes.

Aprendemos uma importante lição aqui. Precisamos entender que nossa oração não pode alterar os propósitos de Deus. Por isso, em nossa oração, não vamos determinar nada para Deus. Não vamos reivindicar nada. Deus pode intervir e nos livrar do mal, como fez com Pedro. Mas, para que seus propósitos se cumpram, ele pode não nos livrar, como fez com Tiago, e com o próprio Pedro anos depois.

Por isso, as oração que determinam milagres, ou que reivindicam as bençãos de Deus, estão completamente fora de sintonia com a Bíblia. Veja bem essas orações: “Eu profetizo a prosperidade de Deus sobre vocês”. “Eu declaro a cura”. “Eu determino que você não sofra nenhum mal ou nenhum acidente”. “Eu declaro a libertação de Deus em sua vida”. Esses tipos de orações contrariam os ensinos da Palavra de Deus acerca da oração. Leia atentamente as Escrituras, e você simplesmente não encontrá essas orações sendo feitas por nenhum personagem bíblico! Além disto, essas orações afrontam a soberania de Deus. Deus é Soberano. Ele dá a última palavra. Não é a minha oração que dá a última palavra, nem mesmo minha fé. É o Senhor quem dá a última palavra. Eu não sou o centro do Universo. E não tenho poder para reivindicar ou determinar nada.

O Pr Marcos Granconat, pastor da Igreja Batista da Redenção em São Paulo, afirma acertadamente: “A noção de se aproximar de Deus com palavras de reivindicação, exigindo supostos direitos, está bem longe do ensino cristão sobre oração. Trata-se de uma noção nova, inventada por homens de mente corrompida, que acham que podem se dirigir a Deus como se fossem senhores dele.”[1]

Em Timóteo 4, lemos as últimas palavras do apóstolo Paulo. Ele afirma que a vida dele estava sendo oferecida por libação (2Tm 4.6). Estava prestes a ser matirizado (fato ocorrido por volta do ano 64 d.C.). No entanto, Paulonão faz nenhuma oração do tipo “eu determino minha libertação”. Ele simplesmente reconhece: “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2Tm 4.18). Ele declara que o Senhor iria livrá-lo de toda obra maligna, mas esse livramento da obra maligna não sigificava que ele seria livre do martírio, mas sim, que ele seria levado ao reino celestial.

Por isso, que nossa oração seja como a do Mestre: “Não seja a minha vontade, mas a Tua” (Lucas 22.42). “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6.10).De fato, “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1João 5.14).

[1] Marcos Granconato, A prática da Igreja de Deus: A fé e o fundamento da igreja bíblica (São Paul: Hermeneia, 2015), p. 43.