O GRANDE MANDAMENTO

Postado em 28 de junho de 2021 por

Categorias: Pregações

Pr Luciano R. Peterlevitz, mensagem pregada na PIBS, em 27/06/2021 (culto da noite)

TEXTO: Mateus 22.34-40

Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho.

E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:

Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?

Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.

Este é o grande e primeiro mandamento.

O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.

Introdução

A narrativa começa se referindo à vitória de Jesus no debate com os saduceus. Jesus “fez calar os saduceus” (v.34). Então os fariseus “reuniram-se em conselho”, provavelmente para tramar perguntas maldosas para Jesus. Queriam incriminar Jesus. A esperança dos fariseus era levar Jesus a tropeçar em alguma resposta. Não somente queriam que Jesus apresentasse alguma resposta errada, mas principalmente alguma resposta que pudesse incriminá-lo, tornando-o assim alvo de julgamento para a morte.

Um “intérprete da lei” (v.35, um escriba, um perigo na lei) colocou Jesus à prova. Sua pergunta é: “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?” (v.36). A “Lei” é o Pentateuco, mas o termo também pode ser aplicado a toda a Escritura.

É sobre isso que vamos refletir na mensagem de hoje: Qual é o principal mandamento das Escrituras?

A resposta de Jesus é muito simples: o amor a Deus e o amor ao próximo. Esse é o grande mandamento.

Os fariseus eram peritos na lei. Prendiam-se aos mínimos detalhes da lei de Moisés. Amavam um monte de regrinhas religiosas. Gostavam de um bom debate. Mas deixavam de lado o principal: o amor.

Nos dias de hoje, não faltam peritos. Por causa do grande número de informações disponíveis nas mídias sociais (incluindo fake News), há muitas pessoas especialistas em tudo. Querem dar sua opinião sobre todos os assuntos. Mas aquele que sabe de tudo, na verdade não sabe de nada.

Nesses dias de tantas informações, nós sabemos de tudo. Só não sabemos amar.

O primeiro e maior mandamento: v.37-38

Jesus cita Dt 6.5, uma parte da Shemá. A Shemá uma composição de três passagens recitadas duas vezes ao dia pelos judeus:Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm 15.38-41. Para os judeus, a Shemáera o coração do Antigo Testamento. ShemáYisrael(“Ouve Israel”) são as duas primeiras palavras de Dt 6.4.

Esse é o primeiro e grande mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (V.37).

Os termos “coração”, “alma” e “entendimento” referem-se a todo o nosso ser, às nossas capacidades e às nossas faculdades intelectuais.

Alguns pontos precisam ser considerados sobre o que significa amar a Deus:

  1. Deus não precisa do nosso afeto ou do nosso amor. Deus não é uma pessoa carente. Deus não terá problemas de baixa estima, se nós não O amarmos.
  2. Amar a Deus de todo o coração é a essência de todo o ensino do Antigo Testamento. Por isso, os profetas condenaram a religião estéril, fria, mecânica e ritualista. “Pois desejo misericórdia, não sacrifícios, e conhecimento de Deus em vez de holocaustos.” (Os 6.6, NVI).
  3. Buscamos a Deus por medo do inferno ou porque o amamos?Um ditador pode ser obedecido, mas dificilmente será amado. Deus não é um ditador.

Cito aqui parte do Soneto a Cristo Crucificado, atribuído a São João de Ávila:

Não me move, meu Deus, para querer-te

    O céu que me hás um dia prometido;

    E nem me move o inferno tão temido

    Para deixar por isso de ofender-te.

Em outra estrofe do poema do Soneto supracitado, São João de Ávila diz:

    Moves-me ao teu amor de tal maneira,

    Que a não haver o céu ainda te amara,

    E a não haver o inferno te temera.

  • O amor a Deus deixa de lado a barganha. Muitas pessoas querem barganhar com Deus. Acham que podem fazer trocas com o Senhor Soberano. Se Deus tirar tudo de nós, continuaremos a amá-Lo, ou nosso amor a Ele está condicionado às suas bençãos?
  • Qual a prova de que amamos a Deus? Amamos a Deus se obedecemos a Sua Palavra com todo o nosso coração. As três passagens da Shemá (Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm15.38-41) acentuam a importância de amar a Deus através da obediência. Dt 6.4-6 afirma que as palavras de Deus devem ser atadas na mão e entre os olhos (a Palavra deve reger nossas ações e controlar nossos pensamentos). As outras duas passagens da Shemá (Dt11.13-21 e Nm 15.38-41) também acentuam a importância de obedecer a Deus de todo o nosso coração. Parte dessas passagens dizem:
  • “E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma” (Deuteronômio 11:13).
  • “…vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo.” (Números 15:39).

Não adianta a gente cantar “Te amo tanto, tanto…” se não estamos dispostos a obedecer a Palavra de Deus.

O segundo grande mandamento: v.39

O “segundo” não significa que é menos importante. Na verdade, o primeiro mandamento está intrinsecamente ligado ao segundo. “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1João 4:20).

V.39: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Jesus cita Levítico 19.18: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.”

O “próximo” aqui em Levítico se aplica ao irmão israelita ou ao estrangeiro residente na terra de Israel. Mas na “parábola do bom samaritano”, o “próximo” são todos aqueles que precisam de ajuda.

Amar é acolher. No livro de Deutorômio, a ordem para amar a Deus é seguida da ordem para amar e acolher os estrangeiros (Dt 10.12, 19). Ao acolher os necessitados, os israelitas estavam provando que amavam ao Senhor Deus.

Uma igreja que experimenta o amor de Deus é uma igreja acolhedora, receptiva. 

O amor ágape é amor incondicional. É o amor que não espera nada do outro. É o amor que se entrega. 

Infelizmente nosso amor é baseado na retribuição, não na graça. É um amor interesseiro, egoísta, baseado no princípio da retribuição (“O que ganho com isso?”).

Entretanto, o amor ágape não considera o que a pessoa merece, mas sim aquilo que ela precisa. 

Nossa tendência é amar aqueles que nos amam. E aqueles que nos ofendem? Como amar aquela pessoa chata, que fica pegando no seu pé?

“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:44).

Cristo morreu por nós quando éramos bons? Você entraria seu filho para morrer por um ímpio?

Amar pessoas boas é fácil. Mas amar os nossos inimigos, isso com certeza não é fácil. Mas foi isso Deus fez: Ele nos amou, sendo nós ainda pecadores.

“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.João 13:35. Como as pessoas saberão se somos seguidores de Jesus? Resposta: Se amamos uns aos outros. Não adiante eu ter a doutrina corretar, eu ir à igreja correta, se eu não aprendi a amar.

Tertuliano testemunha que os primeiros cristãos levavam essas palavras de Jesus tão a sério que os pagãos exclamavam, admirados:

    “Vede como eles se amam!” (Apolog. 39).

Conta-se que um cristão e um trotskista (seguidor das ideias marxistas de Leon Trótski) foram presos por Stálin, na Sibéria. O trotskista adoeceu, e o cristão cobria aquele homem com seu cobertor. Dava dois terços de sua ração para ele. Carregava aquele homem para tomar sol. Então, certa vez o trotskista perguntou ao cristão: “Jesus é igual você?”. O cristão respondeu: “Não, Ele é muito melhor!”. O homem, admirado, respondeu: “Porque se Ele for simplesmente igual a você eu quero conhecê-lo!”.

A essência de tudo: v.40

V.40: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”.

“Lei e Profetas”, uma referência às Escrituras. Portanto, todas as Escrituras “dependem” desses dois mandamentos. O que significa isso? D. A. Carsonapresenta uma excelente explicação: “nada nas Escrituras pode harmonizar ou ser verdadeiramente obedecido a menos que esses dois mandamentos sejam observados. Toda a revelação bíblica exige religião do fundo do coração marcada pela entrega total a Deus e o amor a ele e ao próximo. Sem esses dois mandamentos a Bíblia é estéril.”

“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Gálatas 5:14.

Hoje tem muita gente brigando por causa da verdade ou por causa da justiça. Sim, é verdade que Jesus falou que precisamos ter fome e sede da justiça. É verdade que não podemos abrir mão da verdade. Mas também é verdade que não somos melhores do que ímpios e injustos, se amamos a justiça e não amamos as pessoas pelas quais Cristo morreu. É verdade que precisamos buscar a verdade, mas é fundamental entendermos que precisamos seguir “a verdade em amor” (Ef 5.15). Todo aquele que mata, ou ofende, ou ridiculariza o próximo em nome de uma verdade, na verdade, não conhece a Verdade. 

Conclusão

Deus é amor. O amor faz parte do caráter de Deus. Se conhecemos a Deus, se andamos com Ele, conheceremos o amor, pois Deus é amor. Mas se não amamos, é porque não conhecemos a Deus, não temos andado com Ele. “Quem não ama não conhece a Deus” (1Jo 4.8).